01 dezembro 2005

O quê virá a ser a BILIV - BIBLIOTECA LIVRE ?

É idéia, nova. Ou é idéia antiga, aplicada a algo antigo, o livro, porém de um jeito novo. A idéia é a de que não se perde o que se transmite, no caso o conhecimento, no seu sentido mais amplo, registrado em livros, e de que essa transmissão deve e pode ser contínua, acelerada e democraticamente participativa.

A síntese do processo:

1- Você lê um livro e gosta muito, pois proporcionou-lhe uma experiência agradável e educativa, deliciosa e conscientizadora, quem sabe até sublime e fundamental.

2 - Você acha importante que outras pessoas tenham a oportunidade factual, real, prática, efetiva, de desfrutar dessa mesma experiência.

3 - Você pega aquele exemplar do livro, ou compra outro exemplar, e no verso da capa, no alto, escreve: Este livro é integrante da BIBLIOTECA LIVRE. Foi libertado por...(você escreve seu nome).

4 - Você imprime, recorta no tamanho e cola no livro, como sua primeira página o seguinte texto, ou outro de sua redação ou escolha:

*****

Este é um livro exemplar, porque livre! Seu destino é navegar por muitas mãos, de par em par, que o elevarão à sua verdadeira dimensão e o levarão a seu sublime destino, que é ser lido, lido e lido, pois, segundo a opinião de seu libertador (primeiro nome que consta no verso da capa - o seu), é um ótimo livro. Dele se enamorará teu pensamento e tereis belos momentos juntos. Depois de amá-lo, o farás prosseguir, a outras mãos, a outros olhares, a outros pensamentos que dele se enamorem talvez ainda mais, e de onde brotem outros vôos, outras idéias, outras compreensões.

Este exemplar goza da proteção e dos direitos conferidos pela BIBLIOTECA LIVRE:
- O direito de nunca mais ser comprado ou vendido.
- O direito de ser liberado tão logo termine a troca de afetividades entre si e o leitor, ou ainda se esta troca, por falta de afinidades, não ocorrer. Um e outro caso comprova-se em uma semana. Mantê-lo por mais tempo é, em qualquer caso, fazê-lo novamente prisioneiro, o que é grave ofensa à liberdade de todos.
- O direito de ser bem tratado e cuidado, com atenção e respeito.
- O direito inalienável de exercer seu destino, que é ser lido, muito lido.
- O direito de morrer livre, bem velhinho, bem visto, bem folheado e lido, bem gasto e apreciado, conhecido pelo mundo e pelas gentes, feliz, num futuro muito longínquo.

Aproveite, caro amigo leitor, amiga leitora, que ele está vivo e com você.
Jean Scharlau – pioneiro fundador da Biblioteca Livre.

5 – Você entrega esse livre livro, de sua escolha e gosto, em mãos, a alguma pessoa que você perceba que poderia gostar de lê-lo.

6 - Você explica a essa pessoa que o livro faz parte da BIBLIOTECA LIVRE, conforme consta ali impresso, e que portanto deverá ser passado adiante, em mãos, a outro leitor, ou devolvido a você, caso a pessoa não goste ou discorde do valor da obra.

7 - Antes de passar o livro adiante, o leitor escreve seu nome abaixo dos que já estão relacionados no verso da capa, e que são os do libertador do livro e dos leitores subseqüentes.

Pronto! Esta é a BIBLIOTECA LIVRE!

Não precisa de sede, não precisa de funcionários, não precisa de ar condicionado, anti-mofo, anti-cupim, não precisa de verbas governamentais.. O seu acervo será escolhido da maneira mais democrática possível e ela funcionará somente pela vontade e participação das pessoas que interessam-se em preservar e desenvolver a cultura, principalmente a escrita, e isto significa muitas pessoas, muita participação, muita democracia – de verdade. Os livros libertados não ficarão empilhados no fundo de uma sala escura aguardando trâmites burocráticos ou o lixeiro e cada exemplar poderá ser lido por 50, 100, 200 pessoas – um investimento super bem aplicado .

Ao que me consta é uma idéia original e não encontro nela inconvenientes, além disto é idéia de um brasileiro, o melhor do nosso país, não é mesmo?

Que tal a gente fazer esta idéia vingar aqui e depois exportá-la para o mundo?

*****

A Biblioteca Livre não está sendo proposta para ser apenas um novo jeito de você emprestar livros aos seus amigos. Como você está lendo esta página da web, muito possivelmente esteja em casa, uma entre as 12% do Brasil que têm computador conectado à Internet. Você, muito provavelmente não está entre os brasileiros mais pobres, ao contrário, muito possivelmente está entre os 30% melhor aquinhoados da população brasileira. O objetivo principal da Biblioteca Livre é fazer fluir para a base da pirâmide social o doce orvalho literário, aquele que você mais aprecia e que de outro modo dificilmente chegaria lá.

Claro que é possível começar na sua própria classe social, distribuindo os primeiros exemplares a amigos e conhecidos. Mas sugiro que você pense nas possíbilidades implícitas em comprar um livro que você aprecie, adequado à faixa etária, e ir até uma escola, com uma ou duas folhas impressas explicando o que é a Biblioteca Livre, falar com a diretora e então com uma professora em sala de aula, explicar aos alunos e perguntar quem gostaria de ler o livro e, entre os que quiserem, fazer um rápido sorteio (com papeizinhos numerados) - um será sorteado para lê-lo primeiro e os outros ficarão aguardando sua vez. A professora poderá, após todos terem lido, o que acontecerá meses depois, fazer uma aula onde se fale sobre aquele livro, ou sobre outros que os próprios alunos ou professoras tenham resolvido libertar depois de sua visita e iniciativa.

A propósito, a Biblioteca já está funcionando - funciona no momento em que.

Jean Scharlau.


PS - Para conhecer outros aspectos da proposta, sugiro a leitura da crônica abaixo.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Jean,
É claro que aceito o convite.
Aí vão os dados:

Libertador: Alexandre Vanz - Blumenau - Santa Catarina

Alforriados:
Os Sertões - Euclides da Cunha
Crime e Castigo - Fiodor Dostoiévski (tradução de Paulo Bezerra)
Todos os Nomes - José Saramago

02 dezembro, 2005 01:00  
Blogger Unknown said...

Jean, bonita pra danar esse projeto. rapaz, pensando cá comigo carcomido: e os ebooks, e os livros copiados?
posso colaborar colocando meus livros esgotados ao dispor da biblioteca? um deles já tá em ebook.
se achares interessante, tamos aí!
e vezenquando faço chover, sim, e ando tentando aprender a fazer sol, bem mais difícil!
um abraço.

02 dezembro, 2005 14:50  
Anonymous Anônimo said...

Lindo texto, Jean, esse "Um presente de Natal" e a idéia, muito boa, como toda idéia absurda... Quando voltar, me
integro, desde que nao tenha que discutir Saramago, Fausto Wollf ou o que quer que seja.
grande abraço

03 dezembro, 2005 01:42  
Blogger SV said...

Jean, uma sugestão:
Cada livro libertado merece um post constando autor, resumo sumário, libertador, data da alforria e alguma curiosidade sobre ele.
No texto que sugeres poderia-se divulgar o post e convidasse o leitor por onde ele (o livro libertado) passou a deixar um comentário.

Meu primeiro livro libertado será
Doze Contos Peregrinos, de Gabriel García Marquez.

03 dezembro, 2005 12:11  
Blogger Lucimar Justino said...

Caro Jean,

minha nossa!!! Amei a iniciativa! Que projeto maravilhoso, heim!!! Fiquei sabendo no blog do Marcelino Freire (eraOdito.blogspot.com) e cá estou apreciando essa idéia. Conte comigo, tô nessa!!! Serei em menos de 20 dias professor...hehehe... vou divulgar essa idéia por onde passar. Também colocarei um link para seu blog no www.micropoema.blogspot.com!!! Adorei, kara!!!

Um forte abraço,

Lucimar Justino.

06 dezembro, 2005 19:51  
Blogger Lucimar Justino said...

De novo: sugiro que se coloque neste texto, que vai na primeira página do livro, o endereço do blog da Biblioteca Livre. Que tal?

Abraços!

06 dezembro, 2005 21:30  
Anonymous Anônimo said...

Um pássaro de capa azul...

... apareceu-me hoje, nos jardins da Gulbenkian. Passava entre aquele verde imenso, na forma de todas as árvores, arbustos e plantas de que desconheço os nomes quando dou com um livro, aparentemente novo, caído fora do empedrado. Azul, na capa, a cor que gosto. Apanho-o e considero-o meu. "O destino de Nathalie "X" ", de William Boyd. Bem, penso, assim que tiver uma brecha leio-o. Já em casa lembro-me que comprei lá dois lápis de grafite, para fazer os meus bonecos, ou não (tenho a mania de comprar mesmo sabendo que não vou usar), vou buscar os lápis e dou com o livro enfiado no mesmo saco. Já nem me lembrava dele. Abro-o e logo na primeira página está escrito:

Porque acredito, que mesmo sem internet, os livros também podem passar de mão em mão; é meu desejo sincero libertar este livro para quem o quiser ler! Como o faço nesta época, aproveito para desejar um Feliz Natal 2007, Próspero Ano Novo 2008 e todos os restantes da vida de cada um dos leitores e de todos os que vos rodeiam...

(desenho de "smile")

Pois desta forma o livro que era meu deixou de o ser, porque ele é livre e não vou ser eu a encarcerá-lo senão pelo tempo de leitura. Aproveito para retribuir os votos à boa alma que mo passou e agradecer-lhe por me ter feito crescer um pouco mais.

VP

22 dezembro, 2007 17:48  

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